terça-feira, 29 de julho de 2008

Especialização?


A ideia de que o Parkour é uma actividade física extremamente completa é recorrente dentro da comunidade. Se observarmos o treino de um traceur típico vemos que este pode variar entre o desenvolvimento da resistência física, da força, do equilíbrio, da capacidade de salto, da coordenação psicomotora e de muitos outros aspectos mais ou menos específicos dentro destes mais gerais. Podemos também recorrer a outro tipo de abordagem e pensar não nas competências físicas que são exigidas mas sim no estilo de treino que está relacionado com a dedicação a cada uma delas. Assim, podemos dizer que em alguns treinos optamos por desenvolver um estilo mais ligado à fluência dos movimentos, procurando o encadeamento perfeito entre as várias técnicas numa sequência que se torne única (aqui a resistência e a coordenação psicomotora têm um papel central). Noutros procuramos talvez a sistemática superação dos nossos limites, tentando sempre chegar mais alto ou mais longe do que antes, estilo esse que conduz claro ao desenvolvimento da capacidade de salto e da força física de uma maneira geral. Existem também aqueles em que nos dedicamos à repetição consecutiva do mesmo movimento e isto com dois objectivos ou resultados principais – primeiro, o aperfeiçoamento da técnica propriamente dita e segundo o treino físico associado a esse gesto. Podemos também destacar o equilíbrio, talvez o único aspecto que é ao mesmo tempo uma competência e um tipo de treino em si mesmo.

Por ser assim completo o Parkour torna-se também extremamente exigente. Manter uma consistência razoável em todos estes aspectos é uma tarefa árdua. Se multiplicarmos cada uma destas competências e abordagens por cada movimento susceptível de ser trabalhado podemos ter um vislumbre de todo o espectro de possibilidades que se apresenta. Assim, pode ser fácil cair num tipo de treino errático, desconectado e incoerente. A conclusão a que fui conduzido, reflectindo sobre isto é que a especialização parece ser, para o meu caso em concreto pelo menos, uma solução muito apetecível... Por um lado e como referi, sinto que repartir o meu esforço por todas as possibilidades que um treino de Parkour oferece não permite mais do que certa mediocridade em todas elas. Para melhores resultados seria necessária uma rotatividade muito disciplinada e regular que reconheço não estar ao meu alcance, em parte por força do tempo que ela implica. Por outro lado existe, no meu entender, um aspecto muito relevante e que é talvez aquele verdadeiramente decisivo - a apetência. É inegável a possibilidade de reconhecer em cada traceur uma certa inclinação ou tendência para um estilo de treino específico, em parte pelas suas características físicas mas também pelos seus traços de personalidade, que se prestam mais a um certo tipo de abordagem. Talvez porque esta é a melhor forma de optimizar o meu tempo de treino ou simplesmente porque é aquela que me dá mais divertimento, sinto-me tentado a dar prioridade ao estilo de treino para o qual sinto mais apetência.

A pergunta impõe-se, já que a dúvida vai a par com a certeza. Especialização?


2 comentários:

Anónimo disse...

Especializar é "saber cada vez mais sobre cada vez menos"... E não será assim renderes-te ao parkour enquanto treino físico - o mais adequado a ti-, pondo de lado outras vertentes dessa "actividade" que, apesar de menos adaptadas ao teu físico, ao teu gosto, à tua vontade, a tornam,como dizes, tão completa?

Anónimo disse...

Talvez sim talvez não. Como você mesmo falou vai depender e muito do estilo do Traceur. Acrescento aqui: o local de treino, as referências (vídeos assistidos, contatos com outros Traceurs) a capacidade corporal e mental do Traceur... e por ai vai.
Mas acredito que se mantiver-mos o foco do Parkour a longo prazo, isto é, ter em mente praticar Parkour por toda a vida ("Vovôs fortes") vai ampliar e muito a visão do Traceur, falo por mim e adoto o lema do "Vovô forte", sem dúvida pretendo estar lá com meus 60 70 anos e ter pelo menos o espírito do Traceur!