Ninguém ficou indiferente. Não são muitos os que conseguem fazê-lo mas ele sim, ele tocou toda a comunidade e deixou o seu sinete bem lacrado em letras capitais. Apenas as pessoas excepcionais têm capacidade para o fazer porque hoje em dia a mediocridade dissipa-se na fecunda matriz da informação tão rapidamente como surgiu e nela só perduram aqueles que acrescentam algo de verdadeiramente relevante. Alegro-me ao pensar que a própria natureza desta matriz permite que qualquer um possa ser essa pessoa excepcional e fazer a diferença. Essa natureza praticamente assegura que alguém com uma ideia extraordinária ou uma determinação invulgar possa inspirar outras pessoas a uma escala absolutamente global. Desta vez a inspiração veio da Letónia, foi o Oleg Vorslav.
Há algumas semanas, o seu vídeo surgiu da matriz. Foi colocado on-line e o impacto que causou foi notável, o espectro de opiniões era de uma gama vastíssima. Para uns era fenomenal, para outros excessivo, para alguns estava mal filmado, para essoutro uma obra de arte. Essencialmente foi controverso, não houve de todo unanimidade em relação ao trabalho deste traceur letão. O seu treino nas barras foi comparado a não mais do que uma excelente rotina de ginástica, longe das técnicas e dos princípios basilares do Parkour, isto porque o protagonista movimenta-se de uma forma que não seria útil numa situação em que é necessário fugir ou perseguir, para alguns o propósito fundamental desta disciplina. A pergunta impôs-se, incómoda e polémica. É Parkour? No seguimento desta surgiu naturalmente outra ainda mais controversa. O que é o Parkour? Não é o propósito deste artigo responder a nenhuma delas. A discussão seria longa, exaustiva e tremendamente inconclusiva, pretendo apenas transmitir uma opinião que é pessoal e que sinto necessidade de partilhar.
Alguns comentários iam ao encontro da ideia de que o movimento do Oleg, ainda que não fosse útil, era uma demonstração excepcional de força e agilidade, que documentava assim um excelente treino para o Parkour. Estavam no entanto muito longe de reconhecer a inclusão dos recursos usados por ele na disciplina propriamente dita. E estava assim feita uma distinção que eu acho muito interessante e cuja discussão considero bastante fértil – A distinção entre o acto de fazer Parkour e o treino para fazer Parkour. Já por mais do que uma vez li ou ouvi opiniões que manifestam de forma peremptória que o treino não é Parkour, que o processo da repetição, da tentativa e erro, da preparação física e mental não fazem parte do acto que é o Parkour propriamente dito. Esse, reserva-se àquele momento em que somos confrontados com a necessidade de agir para nos ajudarmos ou para ajudarmos os outros, o momento em que somos, numa palavra, úteis. Na minha opinião o Parkour é necessariamente tanto a prática como acto. Parkour significa “percurso” em sentido estrito, é certo, mas também em sentido lato. Representa o “caminho” com todos os seus significados, o caminho para chegar ao outro lado de uma sebe ou para subir a uma árvore mas também o caminho que o traceur escolhe percorrer até um determinado objectivo. Para uns é a capacidade de sobrevivência, para outros é a utilidade, para outros ainda é a natureza estética da disciplina e para alguns será por exemplo o sentimento de pertença a um mundo sistematicamente mais urbanizado. Se limitarmos o Parkour apenas ao momento em que somos postos à prova então, tal como alguém escreveu pelo meio desta discussão, em 99,9% da nossa vida não há Parkour e sobre isto eu não podia sentir mais desacordo. Para mim o percurso é trilhado a todo o instante, há Parkour quando estou a fugir de um prédio em chamas da mesma forma que há Parkour quando estou a fazer uma sessão do Air Alert.
Se o Oleg Vorslav fez ou não um vídeo de Parkour só ele poderá dizer. Apenas a sua opinião subjectiva é realmente importante para esta discussão pois só ele saberá o que significa brincar naquela estrutura e qual é o sentimento predominante quando o faz. Se esse sentimento for aproximado ao enlevo da descoberta de um lugar que já lá estava antes de o encontrarmos, ao entusiasmo no primeiro contacto com as superfícies, à procura solitária de possibilidades que só aquela disposição exacta permite e ao êxtase provocado pelo sucesso de um primeiro salto, então acho que podemos dizer que se trata de um sentimento com o qual todos os traceurs se conseguem relacionar e que eu considero ser aquilo que constitui a própria essência do Parkour.
Mas de uma coisa não tenho dúvida, o Oleg abriu portas e janelas onde nem paredes havia. As respostas que ele dá àquele espaço são tão inovadoras que só consigo descrever o que senti quando vi o vídeo através de uma palavra – incredulidade, simplesmente não queria acreditar... Nunca tinha visto alguém aproximar-se das qualidades simiescas que o Oleg demonstra. É como se um estado físico muito evoluído caminhe na direcção contrária ao da evolução, por mais paradoxal que isto possa parecer. Este vídeo parece demonstrar que um ser humano com capacidades físicas extraordinárias está, em termos cinestésicos, mais perto dos outros primatas do que outro com uma capacidade física regular.
Resta-me apenas sugerir a visualização do vídeo e esperar que a discussão se mantenha aberta com base nestas e noutras considerações.
http://www.youtube.com/watch?v=EFOPF_f90O0
Há algumas semanas, o seu vídeo surgiu da matriz. Foi colocado on-line e o impacto que causou foi notável, o espectro de opiniões era de uma gama vastíssima. Para uns era fenomenal, para outros excessivo, para alguns estava mal filmado, para essoutro uma obra de arte. Essencialmente foi controverso, não houve de todo unanimidade em relação ao trabalho deste traceur letão. O seu treino nas barras foi comparado a não mais do que uma excelente rotina de ginástica, longe das técnicas e dos princípios basilares do Parkour, isto porque o protagonista movimenta-se de uma forma que não seria útil numa situação em que é necessário fugir ou perseguir, para alguns o propósito fundamental desta disciplina. A pergunta impôs-se, incómoda e polémica. É Parkour? No seguimento desta surgiu naturalmente outra ainda mais controversa. O que é o Parkour? Não é o propósito deste artigo responder a nenhuma delas. A discussão seria longa, exaustiva e tremendamente inconclusiva, pretendo apenas transmitir uma opinião que é pessoal e que sinto necessidade de partilhar.
Alguns comentários iam ao encontro da ideia de que o movimento do Oleg, ainda que não fosse útil, era uma demonstração excepcional de força e agilidade, que documentava assim um excelente treino para o Parkour. Estavam no entanto muito longe de reconhecer a inclusão dos recursos usados por ele na disciplina propriamente dita. E estava assim feita uma distinção que eu acho muito interessante e cuja discussão considero bastante fértil – A distinção entre o acto de fazer Parkour e o treino para fazer Parkour. Já por mais do que uma vez li ou ouvi opiniões que manifestam de forma peremptória que o treino não é Parkour, que o processo da repetição, da tentativa e erro, da preparação física e mental não fazem parte do acto que é o Parkour propriamente dito. Esse, reserva-se àquele momento em que somos confrontados com a necessidade de agir para nos ajudarmos ou para ajudarmos os outros, o momento em que somos, numa palavra, úteis. Na minha opinião o Parkour é necessariamente tanto a prática como acto. Parkour significa “percurso” em sentido estrito, é certo, mas também em sentido lato. Representa o “caminho” com todos os seus significados, o caminho para chegar ao outro lado de uma sebe ou para subir a uma árvore mas também o caminho que o traceur escolhe percorrer até um determinado objectivo. Para uns é a capacidade de sobrevivência, para outros é a utilidade, para outros ainda é a natureza estética da disciplina e para alguns será por exemplo o sentimento de pertença a um mundo sistematicamente mais urbanizado. Se limitarmos o Parkour apenas ao momento em que somos postos à prova então, tal como alguém escreveu pelo meio desta discussão, em 99,9% da nossa vida não há Parkour e sobre isto eu não podia sentir mais desacordo. Para mim o percurso é trilhado a todo o instante, há Parkour quando estou a fugir de um prédio em chamas da mesma forma que há Parkour quando estou a fazer uma sessão do Air Alert.
Se o Oleg Vorslav fez ou não um vídeo de Parkour só ele poderá dizer. Apenas a sua opinião subjectiva é realmente importante para esta discussão pois só ele saberá o que significa brincar naquela estrutura e qual é o sentimento predominante quando o faz. Se esse sentimento for aproximado ao enlevo da descoberta de um lugar que já lá estava antes de o encontrarmos, ao entusiasmo no primeiro contacto com as superfícies, à procura solitária de possibilidades que só aquela disposição exacta permite e ao êxtase provocado pelo sucesso de um primeiro salto, então acho que podemos dizer que se trata de um sentimento com o qual todos os traceurs se conseguem relacionar e que eu considero ser aquilo que constitui a própria essência do Parkour.
Mas de uma coisa não tenho dúvida, o Oleg abriu portas e janelas onde nem paredes havia. As respostas que ele dá àquele espaço são tão inovadoras que só consigo descrever o que senti quando vi o vídeo através de uma palavra – incredulidade, simplesmente não queria acreditar... Nunca tinha visto alguém aproximar-se das qualidades simiescas que o Oleg demonstra. É como se um estado físico muito evoluído caminhe na direcção contrária ao da evolução, por mais paradoxal que isto possa parecer. Este vídeo parece demonstrar que um ser humano com capacidades físicas extraordinárias está, em termos cinestésicos, mais perto dos outros primatas do que outro com uma capacidade física regular.
Resta-me apenas sugerir a visualização do vídeo e esperar que a discussão se mantenha aberta com base nestas e noutras considerações.
http://www.youtube.com/watch?v=EFOPF_f90O0
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